Foto: Vinicius Machado (Diário)
CORREÇÃO: o grupo saiu de municípios como Tenente Portela, Iraí e Passo Fundo, que foram fortemente afetados pelas enchentes de 2024, mas que não ficam no Vale do Taquari, conforme noticiado na primeira versão da matéria.
Pelo menos 10 famílias indígenas, da etnia caingangue, ocuparam nesta terça-feira (15) a área do centro de pesquisas da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), no distrito da Boca do Monte, em Santa Maria. Homens, mulheres e crianças chegaram com itens pessoais e algumas mobílias, como sofá, geladeira, fogão e freezer, em busca de um só objetivo: reivindicar um lugar para viver.
A Brigada Militar foi acionada, por volta de 13h, para iniciar a negociação com o grupo. A vereadora Alice Carvalho (PSol), junto ao presidente do partido, Alídio da Luz, também acompanhou a situação. As negociações seguiram ao longo da tarde.
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Segundo o líder indígena, Erni Amaro, o grupo é composto por integrantes de diferentes cidades, como Tenente Portela, Iraí e Passo Fundo, que foram afetadas pelas enchentes do ano passado.

– Somos da mesma tribo, mas de várias cidades. Com a tragédia que ocorreu ano passado no Rio Grande do Sul, muitas famílias foram afetadas com as enchentes. Nosso grupo é nômade, vivemos um tempo em uma cidade e migramos para outra, vendendo nosso artesanato – informou.
O campo da Fepagro é dominado por uma grande área verde e árvores. Para um contato mais próximo com a natureza, como é o caso dos indígenas, mostra-se como um refúgio ideal.
– Queríamos um lugar bom, para que nossas famílias e nossas crianças não sofram mais com essas enchentes. Vimos aqui esse lugar ideal, e ficou razoável para nós. Pretendemos ficar aqui. Queremos preservar o local, a natureza – acrescentou o líder indígena.
Por se tratar de um local público, foi necessário iniciar uma mediação entre a liderança indígena e os policiais. O grupo caingangue não deseja sair. Amaro contou que o grupo recebeu uma oferta para mudar para um local em Camobi, mas que a proposta foi recusada pelas famílias.
O advogado Gabriel de Oliveira Soares foi acionado para auxiliar na defesa do grupo indígena. Ele atua no Núcleo Interdisciplinar Interação Jurídica/Comunitária - NIIJuC, que presta assessoria jurídica popular para comunidades tradicionais, vinculado ao Departamento de Direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). De acordo com Soares, uma parte do grupo teria vindo da Chácara das Flores, bairro de Santa Maria.
– No momento, estamos auxiliando a comunidade de representar seu interesse em permanecer no local, seja em relação com a terra, seja pelo local oferecer melhores oportunidades para subsistência, arte ou para a preservação do local. Essa é uma área desocupada, que não está sendo utilizada. A comunidade vem de várias partes do Estado, grande parte afetada pelas enchentes e não teve apoio. Eles escolheram Santa Maria e estamos auxiliando nisso – explica.
Já no cair da noite des terça, a Brigada Militar permaneceu no local com pelo menos duas viaturas, que farão o policiamento na área. O restante da guarnição foi embora. Por volta de 19h, um representante do MPF chegou no local e coletou relatos tantos de policiais quanto da liderança caingangue. Os indígenas permanecerão acampandados nesta noite na área da Fepagro.
Brigada Militar foi acionada

De acordo com o tenente-coronel Marcus Giovani Mello da Silva, comandante do 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon) da Brigada Militar, que atua no atendimento da ocorrência, pelo menos 50 policiais, entre a guarnição do 1º RPMon e Batalhão de Choque, foram até o local. Um drone também sobrevoou a área. Uma ambulância do Samu e uma viatura dos Bombeiros também foram mobilizadas.
– Fomos acionados para atender uma ocorrência de invasão das terras de Fepagro. Importante relembrar que se trata de uma área estadual e, por isso, deslocamos efetivo para cá. São indígenas de vários cantos do Estado, que vieram em busca de ocupar a área. Nosso objetivo é preservar a integridade das pessoas envolvidas – relata o comandante.
Escola foi desocupada e aulas suspensas
Também é nesta área que fica a Escola Municipal Boca do Monte, que foi desocupada em 30 minutos, com o suporte da Brigada Militar e da Guarda Municipal. As aulas de quarta-feira (16) foram suspensas. De acordo com a diretora Carina de Souza, o processo de evacuação ocorreu de forma "muito tranquila". Os transportes escolares que estavam chegando na escola entraram para buscar as crianças que haviam frequentado o turno da manhã e que retornaram para casa. Os pais que chegavam para deixar seus filhos para o turno da tarde foram orientados a retornar. Além disso, todas as famílias foram comunicadas para buscar seus filhos, garantindo que os alunos fossem retirados da escola em segurança.
Carina enfatiza que não houve qualquer sensação de ameaça por parte da equipe da escola, e que não houve manifestação por parte dos indígenas contra a escola ou as crianças em nenhum momento. As famílias puderam entrar e sair da instituição de ensino com total segurança.
Secretaria da Agricultura acionou a Brigada Militar
Em nota divulgada no final da tarde desta terça-feira, o governo do Estado informou que a área ocupada por um grupo de indígenas pertence à Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). No local funciona o Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa Florestal (Ceflor), que conta com mais de 30 servidores atuando diariamente, com utilização da área para diversas ações de pesquisa florestal e parceria com órgãos e entidades. Ao perceber a fase de ocupação do local, a Seapi acionou as forças de segurança para que fossem tomadas as medidas cabíveis para o zelo do patrimônio público.

"Ao ser acionada, a Brigada Militar agiu conforme os procedimentos de intervenção para este tipo de situação, não tendo qualquer episódio de violência. As forças de segurança seguem no local negociando com os representantes do movimento", informa a nota.
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