Foto: Vinicius Becker
A falta de iluminação adequada na Faixa Nova (RSC-287), um dos principais pontos de ligação entre o Centro de Santa Maria e o bairro Camobi, tem sido alvo de críticas constantes de quem utiliza diariamente a rodovia. O problema fica ainda mais evidente durante a noite, quando o fluxo intenso de veículos divide espaço com moradores que caminham, circulam de bicicleta ou aguardam transporte no acostamento.
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A situação foi novamente colocada em evidência após o atropelamento de uma ciclista no final de outubro, enquanto pedalava pelo trecho urbano da rodovia. Ela foi socorrida e encaminhada ao Hospital Universitário de Santa Maria (Husm).
A rodovia é usada por quem acessa a universidade, postos de trabalho e serviços essenciais. Mesmo sendo um dos corredores mais movimentados da Região Central, há trechos onde não há postes de iluminação ou onde os sistemas permanecem apagados por longos períodos.
A reportagem do Diário circulou por quatro pontos da Faixa Nova:
1º- Próximo à Estação Rodoviária de Santa Maria, bairro Cerrito
2º- Cerca de 500 metros adiante do Motel Itapuã, bairro Cerrito
3º- Próximo a uma agropecuária, cerca de cinco quilômetros da Universidade Federal de Santa Maria, no sentido Centro-Camobi
4º- Na zona Urbana de Camobi, cerca de um quilometro da Universidade Federal de Santa Maria
Apesar da distância entre os pontos, eles apresentam situações em comum: alta circulação de pedestres, intenso movimento de veículos e ciclistas pedalando no acostamento da rodovia.
No primeiro e segundo trecho visitados, a equipe do Diário observou por cerca de 20 minutos a movimentação a partir de duas paradas de ônibus, que não continham sinalização e a iluminação se dava apenas com os faróis dos veículos que passavam. No acostamento, pedestres e ciclistas se arriscam durante o deslocamento.

O terceiro ponto visitado foi no sentido Centro - Camobi, a cerca de cinco quilômetros da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O cenário se assemelha ao anterior, a única diferença é que havia uma placa de sinalização, mas não havia banco de espera para ônibus. No local, o estudante Ezequiel, 25 anos, aguardava o transporte coletivo da linha Pains, para seguir seu destino. De acordo com ele, aguardar no escuro se torna totalmente inseguro.
- Pego essa linha todos os dias neste ponto e é sem iluminação alguma, por aqui é bem complicado, pois é tudo escuro, a única luz é do ônibus quando está perto - diz.

A falta de iluminação também é mencionada por quem mora às margens da Faixa Nova. No meio dos diversos empreendimentos que se tem próximo de Camobi e que acabam iluminando a via, moradores convivem com os constantes barulhos de acidentes e buzinas no local. No terceiro ponto visitado, a equipe conversou com Nilda de Mello, 73 anos, moradora do bairro há mais de 41 anos. Com quase meio século de vida no mesmo local, ela relata melhorias no trecho, mas o velho problema da sinalização e iluminação se mantém.
- Aqui sempre teve bastante acidente, muito por conta da falta de iluminação. Depois que colocaram quebra-molas, até diminuiu, mas muito pouco. Tem muita gente que transita a pé, faz caminhada e acaba fazendo isso bem no acostamento, porque parecem ter medo do que pode acontecer, pois não tem quase postes de luz. Precisa de uma melhora bem grande, porque senão vai continuar acontecendo acidentes - relatou.

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O risco é maior no período de maior circulação, entre 18h e 21h. Nesse intervalo, estudantes saem da universidade e trabalhadores retornam para casa. A combinação de pista escura, acostamento estreito e grande fluxo aumenta a probabilidade de acidentes. Em alguns pontos, postes instalados há anos não funcionam ou permanecem apagados por semanas. Ainda no trecho urbano, o caso do Adilson Silveira, 28 anos, que atua como entregador de aplicativo com sua bicicleta, chama a atenção pela coragem.
- Eu tento ficar na região de maior iluminação aqui de Camobi, até para me prevenir de algo. Tomo todo cuidado enquanto pedalo, mas falta muita luz em diversos trechos, principalmente mais no sentido do Centro - comentou.

No momento da conversa, o homem não utilizava o equipamento adequado de proteção e sinalização, o que, somado à falta de iluminação, aumenta o perigo. Apesar de nunca ter sofrido acidente enquanto trabalha com entrega, teme que isso possa acontecer.
- Quando vou para pontos mais escuros eu redobro minha atenção, não só em acidentes, mas em roubos também, por que isso é outra situação que posso acabar sofrendo, por estar de bicicleta - finalizou.

Na falta de ciclovias ou passagens seguras, acabam seguindo pelo acostamento ou pela própria pista. A orientação de segurança é para que ciclistas utilizem equipamentos refletivos e se mantenham sempre visíveis. Porém, mesmo com cuidados individuais, os entrevistados afirmam que a ausência de iluminação continua sendo o principal fator de risco.
Enquanto medidas estruturais não são adotadas, quem precisa utilizar a rodovia segue convivendo com o medo e relatos de situações de risco diário.
O que dizem a prefeitura e o Daer
Questionada sobre o problema, a prefeitura informou que, por se tratar de rodovia estadual, a responsabilidade sobre a implantação de postes de iluminação é do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). Já o próprio Daer informou que não é responsável por iluminação em rodovias.
Projeto de duplicação da Faixa Nova
Os 9 km da Faixa Nova de Camobi, entre os trevos da rodoviária e do aeroporto, ficaram fora da concessão da RSC-287 em 2020. Com isso, em dezembro daquele ano, o Daer se comprometeu a fazer o projeto de duplicação da Faixa Nova. Em outubro de 2022, a empresa Engemin Engenharia iniciou os estudos para fazer os projetos para a futura obra de duplicação. Os trabalhos deveriam ser concluídos em 12 meses. Porém, não foram entregues em outubro de 2023. Já são mais de dois anos de atraso só na entrega dos projetos, que o Daer promete concluir agora no final de 2025. Diante disso, já são mais de 4 anos de promessas de duplicação da Faixa Nova de Camobi.